A Quaresma é um tempo favorável de renovação pessoal e comunitária, que nos conduz à Páscoa de Jesus Cristo, morto e ressuscitado. Aproveitemos o caminho quaresmal de 2022 para refletirmos sobre a exortação de São Paulo aos Gálatas: «Não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido. (Gl 6, 9-10a). Papa Francisco.
Como seres humanos, de tempos em tempos, precisamos passar por experiências de despojamento, de esvaziamento, de vulnerabilidade, de crise..., para poder suavizar nosso coração e, desse modo, fazer-nos mais receptivos e expansivos.
O “deserto” é o lugar das perguntas, do discernimento, da busca de profundidade, o ambiente favorável que nos oferece ferramentas com as quais podemos romper as bolhas que nos aprisionam, impedindo-nos sair para a aventura da vida.
Deste modo, a cinza recorda-nos o percurso da nossa existência: do pó à vida. Somos pó, terra, barro; mas, se nos deixarmos plasmar pelas mãos de Deus, tornamo-nos uma maravilha. Todavia, muitas vezes, sobretudo nas dificuldades e na solidão, vemos só o nosso pó! Mas o Senhor encoraja-nos: o pouco que somos, aos olhos d’Ele tem valor infinito. Coragem! Nascemos para sermos amados; nascemos para sermos filhos de Deus.
Em sua mensagem para quaresma o Papa Francisco recomenda: E olhemo-nos dentro, no coração… Quantas vezes sufocamos o fogo de Deus com a cinza da hipocrisia! A hipocrisia: é a imundície que hoje, no Evangelho, Jesus pede para remover. De facto, o Senhor não diz apenas para fazer obras de caridade, rezar e jejuar, mas que tudo isso seja feito sem fingimento, sem falsidade nem hipocrisia (cf. Mt 6, 2.5.16). E, contudo, quantas vezes fazemos algo só para sermos louvados, para meter figura, para me vangloriar! Quantas vezes nos proclamamos Cristãos e, no coração, cedemos sem problemas às paixões que nos escravizam! Quantas vezes pregamos uma coisa e fazemos outra! Quantas vezes nos mostramos bons por fora e dentro incubamos rancores! Quanta duplicidade temos no coração... É pó que suja, cinza que sufoca o fogo do amor.
A Quaresma é um novo começo, uma estrada que leva a um destino seguro: a Páscoa de Ressurreição, a vitória de Cristo sobre a morte. E este tempo não cessa de nos dirigir um forte convite à conversão: o Cristão é chamado a voltar para Deus «de todo o coração» (Jl 2, 12), não se contentando com uma vida medíocre, mas crescendo na amizade do Senhor. Jesus é o amigo fiel, que nunca nos abandona, pois, mesmo quando pecamos, espera pacientemente pelo nosso regresso a Ele e, com esta espera, manifesta a sua vontade de perdão.
A Vida Cristã pode ser comparada a uma caminhada, que deve ser percorrida na escuta atenta de Deus, na observância total aos seus planos.
A Quaresma é um momento forte para rever essa caminhada.
Colaboração: Ir. Ires Picollo, cifa