Anualmente, recorda-se o dia de Zumbi dos Palmares, em forma de luta e resistência. O 20 de Novembro, dia da Consciência Negra, marca a luta e a força da comunidade negra no Brasil. Além disso, enquanto cristãos e cristãs é oportuno pensarmos a Teologia Negra, qual Jesus estamos centralizando? Se Jesus fosse negro nas imagens e pinturas, como seriam nossas perspectivas?
Embora se tenha grande centralidade na vida de Jesus, o lugar que este Cristo é colocado revela muito o formato da Igreja que queremos vivenciar. Inicialmente, imagine se Jesus fosse apresentado como homem negro, durante o tráfico de escravizados no Atlântico, soaria como algo incoerente.
O Salvador do mundo cristão possuindo a mesma etnia dos grupos escravizados. Será que os Europeus poderiam respaldar o processo de escravidão Atlântica se o Cristo fosse negro nas imagens, esculturas e pinturas? Embranquecer o Nazareno se faz como primordial para justificar o modo como se subjugam outros povos e culturas - povos africanos e indígenas. Afinal, tornar (Jesus) homem branco e universal dá respaldo aos conquistadores e escravocratas.
Qual Jesus gostaríamos de vivenciar? O homem pobre de Nazaré? O Jesus negro? O nascido entre o fedor dos animais? E isso permite que se vá de encontro a Igreja pobre e para os empobrecidos.
Além disso, quando se recorda Zumbi dos Palmares e a importância da Consciência Negra, também se está recordando de Jesus, que por ser homem negro está dentro das minorias. Jesus, empobrecido, negro e jovem. O Brasil apresenta números altíssimos de população negra encarcerada e/ou assassinada, “dos 657,8 mil presos em que há a informação da cor/raça disponível, 438,7 mil são negros (ou 66,7%)”. A população negra cada vez mais está encarcerada no país, e não estamos construindo políticas públicas para reverter esses processos.
Também, os indivíduos que são mais assassinados se constituem de corpos negros. A saber, “em 2018, 75,7% das vítimas de homicídio no Brasil eram negras. No contexto histórico, de 2008 a 2018, o número de homicídios de pessoas negras no país aumentou 11,5%, já entre pessoas não negras caiu 12,9%.”
Por fim, poderia falar sobre racismo recreativo e racismo estrutural, não há necessidades, os dados já mostram essa estrutura racista muito presente em nossas vidas. No Brasil existem inúmeros Jesus no Calvário e na Via-Crucis.
Aislan Soares Viçosa
Juventude Franciscana (JUFRA)
Fraternidade Utopia/Santa Maria
Secretário de Formação Regional - Sul 3
Graduando em História Licenciatura, Universidade Federal de Santa Maria.
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