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Madre Clara - Fundadora de Nossa Congregação

MADRE CLARA MARIA, fundadora de nossa Congregação.

Conheci a Madre Clara no Juvenato. Convivi na Casa Mãe de 1963 a1968. Lembro com afeição a pessoa, o testemunho dela.

No Juvenato, em Cotiporã e Soledade, quando a Madre Clara fazia visitas, as Irmãs anunciavam com muita alegria e nos orientavam ensaiar poesias, teatros, comédias, cantos, brincadeiras para os momentos de recreio. Fazíamos apresentações artísticas. Lembro o olhar, o sorriso dela, semblante alegre, dando palavras de apoio na vocação, e no final, sempre breve oração, um canto de Nossa Senhora Aparecida. Ela apreciava muito estes momentos.

Quando no Postulado e Noviciado, convivi na mesma casa – Casa Mãe, em ambientes distintos, outros comuns, onde nos víamos, como na capela, no refeitório e, em dias de recreios especiais ou nos corredores; em algumas palestras que ela fazia. Ela irradiava serenidade, confiança, humildade, cuidado com a vida das Irmãs. Do Postulado guardo a frase: “Sejam pedintes com a vida”.

Como noviça, rezávamos todas as Irmãs da casa. Por vezes, ela ia à frente explicar a importância de pronunciar bem as palavras e os gestos; como levantar, sentar, breves inclinações, conforme a oração que fazíamos. Dizia: “Sempre mostrar delicadeza, reverência ao Santíssimo, que nos espera para nos acolher, escutar, ajudar”.

Conforme o tempo, eram feitas campanhas como: de sermos mais delicadas, fraternas, observar a caridade, o silêncio, o respeito, ter um rosto alegre. Também rezar pelo Brasil, pelos governantes ou outras necessidades. Marcaram-me certos momentos, ela nos convidava e rezava “de braços em cruz”. Também pedia para rezar por intenções especiais.

Tive como serviço, em quase todo tempo de noviça, cuidar da capela da Casa Mãe. Nesse período a vi muitas vezes nas saídas e chegadas das viagens em missão para visitar as Fraternidades, uma breve oração, em pé, na entrada na capela. Quando chegava era “uma festa”, na portaria... Na entrada da capela havia um banquinho onde, muitas vezes, ela ficava rezando.

No refeitório, ao chegar, uma leve inclinação para o crucifixo, e ia para seu lugar. Olhava cada uma que ia chegando. Era costume, durante o almoço, ela chamar irmãs professas para fazer leitura. Demostrava muita sensibilidade, quando a irmã tinha dificuldade em ler, deixava pouco tempo, com delicadeza batia um martelinho e outra irmã continuava a leitura.

No dia que ela deu resposta ao nosso grupo, que tínhamos sido aprovadas para fazer a Primeira Profissão, fez reflexão sobre perseverança. Disse – nos: “Corram, corram no caminho da perfeição. Não tenham medo de ultrapassar, nem mesmo vossas mestras e superioras”. Ela falava com firmeza, olhando para nós com muito carinho. Fazia comparações, como: o que entra no mar, se é do mar, aí permanece. Se não é do mar, o mar vai jogar para a areia. Guardo esse olhar, expressão de Mãe, de Mestra, acolhendo, orientando. Eu tímida, não perguntei nada, mas senti muita alegria naquele dia. Saí da sala com uma alegria que não cabia dento de mim e que recordo com frequência.

Na sala do piano, aos sábados, fazia palestras sobre passagens do Evangelho. Recordo: lembrar-se como Jesus, viveu, sofreu. Não ter medo de sofrer com Ele, nem ter medo de aprender de tudo. O saber não ocupa espaço. Cuidar para fazer tudo bem feito, tudo feito com amor. No exercício da meditação procurar estarmos unidas ao Nosso Senhor. Examinar a capacidade de renúncia. Procurar ser delicada, humilde e firme. Mesmo que no coração estivéssemos passando por alguma dificuldade, o rosto deveria mostrar alegria, “sorrir”. Pensar no ideal. Ter a alegria de fazer a vontade de Deus. Dizia: ser Irmãs “com bom caráter e de vida interior”. Usar sempre de caridade e diálogo com as pessoas. Recomendava agir com o bom espírito; fazer igual Nossa Senhora “ser a Serva do Senhor”.

Após deixar o serviço de Madre Geral, estava na sala onde hoje é oratório ou na sala de trabalhos manuais. Tive oportunidade de ir a um passeio, por algumas cidades do País, organizado final de curso (normal de férias). Ao voltar ela me chamou e perguntou como foi de viagem e acrescentou: gosto que as Irmãs contem. Senti como ela acompanhava as Irmãs em tudo, demonstrava interesse como uma mãe.

Certa ocasião ela estava no quarto da enfermaria, sentada e várias irmãs à volta dela, falando, contando. Ela me olhou como quem queria falar. Quando veio silêncio, olhou para mim sentada no banquinho de seus pés e me disse: “Irmã, Nosso Senhor vai lhe pedir mais coisas”. O olhar dela penetrou fundo em mim... Não entendi muito naquela hora, mas não esqueci e cada vez que os serviços na Congregação iam chegando, lembro.

Como juniorista participei de palestras com todas as Irmãs moravam na Casa Mãe. Éramos um grupo grande, tempo de renovação da Igreja. Ao falar certos assuntos, por vezes ela tinha a expressão do rosto de preocupação e dizia: “Não se brinca com avida religiosa, vamos começar Irmãs”. Demonstrava abertura e determinação em seu Projeto.

Guardo, também, a lembrança de Madre Clara no fundo da capela rezando, meditando ou seguindo os quadros da via-sacra, ou em seu espaço de trabalho, a salinha onde ela escrevia a História da Congregação de próprio punho; na sala do piano fazendo palestras; nos corredores com nobres gestos de breve reverência; ensinado as Irmãs que estudavam em casa, fazendo curso pelo rádio, por vezes estava no pátio contemplando o jardim.

Não sem preocupações, seu olhar transmitia paz, coragem, de quem tinha confiado a obra ao Divino Hóspede.

Tive a graça de fazer a Primeira Profissão em suas mãos e ela estava presente na Profissão Perpétua. Neste dia recebi um santinho com escrito “Querida Irmã Irma, procura viver a tua consagração. 14/1/1973 Irmã Clara Maria, com muito carinho”. (havia feito pedido para ser chamada pelo nome de batismo, mas o apelido permaneceu).

Hoje percebo que Madre Clara, professora antes de iniciar a Congregação, foi também na Escola da Vida, Mestra na missão, no silêncio, na escuta, na oração, no testemunho, no empenho em viver o Carisma no seu tempo.

Madre Clara, obrigada pelo sua presença, sabedoria, humildade e olhar de amor.

 

 Ir. Nivia Siviero